O ruído das coisas ao cair
“Naqueles dias minha cidade começava a desprender-se dos anos mais violentos de sua história recente. Não estou falando da violência de facadas ordinárias e tiros perdidos, de acerto de contas entre traficantes de pouca importância, mas daquela que transcende os pequenos ressentimentos e as pequenas vinganças da gente miúda, da violência cujos atores são coletivos e escritos com maiúscula: Estado, Cartel, Exército, Frente. Nós, bogotanos, tínhamos nos acostumado com ela, em parte porque suas imagens nos chegavam com portentosa regularidade em noticiários e jornais.”
(Juan Gabriel Vázquez, “O ruído das coisas ao cair”)
No romance mencionado na epígrafe, Juan Gabriel Vázquez narra o tempo em que a a cidade de Bogotá começava a se desprender dos anos mais violentos de sua história recente. Ainda assim, mesmo que sem os episódios espetaculares da batalha urbana – o narcotraficante que mandava mais que o presidente, os assassinatos nas ruas centrais em qualquer hora do dia, os aviões que caíam com bombas do Cartel de Medellín – as balas e as mortes nunca largaram a Colômbia de vista. Mais do que nada, muito se explica pela alta desigualdade social que coloca o país como o terceiro maior abismo entre ricos e pobres do continente, e pela vigência do conflito armado que se estende ao longo das décadas. (more…)
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